Quando decidi ser professor eu tinha 20 anos de idade, estudava em escola pública e odiava Língua Portuguesa. Queria ser professor de Literatura e sonhava em levar meus alunos por mares nunca antes navegados através da leitura... Hoje, 11 anos depois dessa decisão, tenho orgulho de ter me tornado o que sou hoje: Professor de Língua Portuguesa!
Não foi por salário, status ou qualquer outra motivação... Foi vocação! Lembro da conversa que minha querida irmã Patrícia teve comigo - ela já era professora, na época de Língua Inglesa. Ela me disse: "Tu vais ser professor? Olha Tchulí, eu sou professora porque eu gosto!" e eu disse: "Eu irei gostar e muito!". Entrei na faculdade, conheci a minha esposa - Professora e Pedagoga - me formei e sou Professor concursado aqui no Estado do Pará e estou em Greve!
Não por salário, status ou qualquer outra motivação... Estou em greve por respeito à minha categoria que exige um pagamento de um piso salarial - Isso mesmo, o mínimo! - que temos direito após uma decisão judicial e um PCCR digno... Nada mais. As negociações começaram ainda no ano passado, chegamos a fazer uma greve de 17 dias, onde foi acordado um PCCR que teve a sua implatação arrastada até agora, onde o governo o sancionou cheio de falhas com relação a diversos pontos. Sem contar na miséria que fez meu salário aumentar apenas 13 reais!
Desde o início desta greve o governo tem tentado, de todas as maneiras, denegrir a imagem do profissional de educação perante a sociedade, bombardeando a mídia com notícias que tentam mostrar a benevolência do governo em negociar e o professor como um grande baderneiro... Porém me revoltou o julgamento de um Juiz que, na minha opinião, apenas queria aparecer e você pode ler a notícia aqui! Revoltou-me mais ver que o Juiz em questão trata a educação como um serviço que pode ser fracionado, ou seja, turmas terão aulas, outras não? Terei de ministrar apenas a metade de uma aula? E a decisão judicial que obriga o estado a nos pagar piso? Não vale seu Juiz? HAJA PACIÊNCIA! Aumentando mais um pouquinho a minha revolta é a leitura dos comentários das pessoas contra a greve na referida notícia, tratando a nós professores como vagabundos, marginais e outras coisas!
Digo aqui, com toda a certeza do mundo, não sou vagabundo, sou um grande professor, como todos os professores das escolas públicas do Pará do do Brasil inteiro. Lidamos com escolas sucateadas, alunos vindos de situações de risco, temos uma jornada de trabalho violentamente longa e temos - por mais piegas que isso possa parecer - a missão de salvar o país! O mais impressionante é que no final do dia temos a certeza que, aos poucos, ainda podemos conseguir tal façanha, principalmente os professores como eu, vindos da escola pública.
Creio que os nossos governantes um dia conseguirão dar a educação o devido respeito, mas a luta que estamos travando agora é uma peça importante para alcançar esse respeito, pois se recuarmos agora estaremos ensinando nossos alunos a serem relapsos diante dos desmandos dos outros e formaremos marionetes do sistema e não cidadãos críticos. Isso iria contra o nosso juramento no dia da nossa formatura e eu sempre cumpro os meus juramentos!